segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Cartomante dos Pampas


Lucila mocinha solteira, completou o Ensino Médio na cidade, utilizando o transporte escolar, pouco interessada nos estudos, era daquelas que viajava de joelhos no banco virada pra trás “cheia de grau” fazendo a maior bagunça.
 Era menina faceira, mochila “da hora”, "cel" na mão dando toque a  cobrar ou quando tinha 3 ou 4 “pila” de cartão, falando nos três segundos pra economizar,  caderno capa dura, e a cabeça mais ainda, recheada de vento, já pensava no que ia vestir no dia seguinte para aula ou para "matar" as aulas e fazer um tour pela city. 
Em uma manhã ensolarada e quente de verão na Capital Farroupilha, Lucila, moradora do interior escutava a rádio local, ao meio dia o noticiário e os comerciais é sagrado, todos os dias os moradores do interior precisam ouvir, embora vivendo no século XXI, na era digital, multimídia, onde todos ou quase todos possuem comunicação via celular, e alguns privilegiados até mesmo net, Orkut, MSN, Twitter... Mas os “avisos” são uma tradição.
Eis que inicia os “avisos” mas o que lhe chamou atenção foi a notícia que estaria no Karlton Hotel a famosa Dona Lurdes, cartomante afamada na cidade. 
Dona Lurdes segundo seus adeptos e a propaganda resolvia toda sorte de problemas, principalmente de amor e dinheiro, menos os dela  que continuava ”matando cachorro a grito” e solteira “a vulso” como se diz.
Lucila que ao terminar Ensino Médio, já estava prontinha para o matrimônio, talvez com um peão de estância, ou um vizinho com algum pedaço de chão e umas poucas “guampas” (pequeno criador de gado), a situação da moça era grave, já se sentia uma solteirona no alto dos seus 17 anos, pois nesta idade já devia estar “encaminhada” pelo menos noiva, quem sabe até de um parente, o que não pode é ficar pra “benzer tormenta”.
Na manhã seguinte, corre para a cidade e marca uma consulta com Dona Lurdes, estava nervosa, impaciente, o que lhe reservaria o futuro?
Chega a hora tão esperada adentra no quarto do hotel, lá esta Dona Lurdes sentada em uma poltrona a meia luz, a sua frente uma mesa com uma toalha azul, cheia de estrelas e luas prateadas e o  ar impregnado de incenso. Na ocasião Dona Lurdes vestia uma saia longa preta, blusa  com estampa caída sobre os ombros, cabelos longos e soltos, sorri e pede que Lucila sentasse à frente da mesa.
A velha raposa percebe logo  que o nervosismo da moça e também o que o levara a sua procura e antes que a moça falasse ela logo vai dizendo:
- Menina bonita sei que posso te ajudar.
E para ter mais certeza  a velha raposa faz algumas perguntas que no nervosismo a guria solta a palavra sem saber bem o que diz ou disse, e a esperta raposa atenta, só fazendo uma análise.
Lá pelas tantas  diz:
- Menina essa pessoa que você está pensando, não vai dar em nada, mas te falo com toda certeza, tu vais encontrar o amor verdadeiro logo, e ele esta bem mais perto do que tu imaginas. 
Bem, nestas alturas Lucila arrepiou, ficou ainda mais nervosa e Dona Lurdes continuou, disse tudo que ela queria ouvir.
Voltou para casa cheia de esperança e não é que logo se arranja com primo, começa o namoro e logo sai o casório.
E é por essas e outras que Dona Lurdes ainda sobrevive nos dias atuais.




Nenhum comentário:

Postar um comentário